Uma canção à amizade

Postado por Taiane Maria Bonita , quinta-feira, 17 de janeiro de 2013 21:23


Começou nossa amizade eu era assim bem pitoca, perninha curta, braço fino e cabelo desgrenhado. Dizem as más línguas por aí que cabelo eu nunca gostei de pentear. Mas eu finjo que nem ouço tamanha calúnia. Pois na verdade eu gostava era de sentir o vendo no rosto e cabelo alinhadinho é algo que atrapalha esse tipo de peripécia. Meu amigo mais fiel sempre concordou comigo. E gostava igualmente de sentir o vento fazer voar as tranças da gente. Bem que as dele eram bem maiores do que as minhas.
A gente tinha a mesma idade e por vezes eu gostava de imaginar que fazíamos aniversário no mesmo dia. É porque a gente era assim tão carne e osso, tão extensão um do outro que nada seria mais lógico do que comemorarmos a chegada de nossas primaveras no mesmo dia.
Amigo que nem ele eu nunca mais vou encontrar igual. Não importava se eu era pequeninha e ele, aos meus olhos, parecia enorme. Também pouco importava se não falávamos a mesma língua, a gente sempre se entendia. Ele é aquele amigo que sabe escutar, e entendia tudo o que eu falava. Até mesmo aquilo que eu nunca cheguei a pronunciar.
Era o olho dele que me contava que ele sabia o que estava acontecendo comigo. E as orelhas segredavam que ele estaria sempre ali para mim. E foi assim que a gente cresceu: um grudado no outro, feito carne e unha.
E quando eu fui para faculdade e ele teve que ficar, eu sentia tanta falta de sua companhia. E a saudade batia forte no peito. Bem que eu queria ter levado ele comigo, mas, afinal, como eu poderia levar um cavalo para morar num apartamento da capital?


Pode parecer engraçado agora e você pode até rir um pouco por eu dizer que meu melhor amigo sempre foi um cavalo. Para começar a conversa o Tobruque não é qualquer cavalo. Ele é O cavalo. O jeito que ele levanta as orelhas, ou balança a cabeça para mostrar que entendeu o que eu falei, o olhar cheio de amor que lança só para mim, ou as caras de rabugento que ele faz não são gestos de um cavalo. São gestos de um amigo e um amigo de verdade, o mais antigo e mais fiel.
O Tobruque é assim mesmo, rabugento e mal humorado. Acho que nessa parte eu até tenho um pouco de culpa no cartório. Mas mesmo assim a gente sempre se entendeu muito bem, e comigo ele sempre foi um doce. Aliás, quando o bicho resolvia empacar era só eu quem conseguia fazer ele sair do lugar. Sabe, isso é porque a gente sempre foi mais do que amigo, somos também parceiros de traquinagens e cúmplices em peripécias. Nossas histórias e nossa amizade estão gravadas no meu coração.
Hoje o Tobruque já é um senhor de idade. As pintas pretas que ele tinha no pelo branco há muitos anos se apagaram, e andar para ele já é uma tarefa difícil. Meu peito aperta cada vez que penso que para ele o tempo vai ficando curto, e é difícil conter as lágrimas.
É por isso que hoje escrevo está canção que meu peito canta. É para comemorar esta amizade que há tantos anos me enche de amor e de alegria. Eu era assim pequenininha quando ganhei meu melhor presente de aniversário, eu era picurrucha quando fiz o mais querido amigo, eu ainda era criança quando eu comecei a a amar o meu cavalo preferido.
E agora quem é que diz que gente não pode ser amigo de bicho?!

Finito + 01 = ao primeiro

Postado por Taiane Maria Bonita , sábado, 16 de junho de 2012 23:47


Eu sinto, com certa freqüência, medo do fim. Para falar a verdade, a sensação que me invade é um misto de temor e admiração. Esses anos de cinema e literatura me fizeram chegar a conclusão de que o final é uma parte primordial de uma trama. É ele quem separa uma história dos adjetivos: ruim e bom. No meu caminho de escritora procuro dar atenção dobrada aos finais. Porque no final, o que importa é como termina.

E ainda assim o fim me parece levemente assustador, creio que seja por causa da mente cartesiana que por muito tempo esteve acostumada a pensar linearmente. Mas, e se enxergássemos de uma forma diferente? Há tempos, em um sonho, recebi a seguinte fórmula: o finito mais um é o primeiro.  Certamente para um engenheiro ou um matemático isso não faça o menor sentido. Por ventura, também não faça para um pseudo-intelectual acostumado com a linearidade do pensamento ocidental. 

O fato é que mesmo depois de acordada passei inúmeras horas do meu tempo pensando no assunto; e de completamente incompreensível isso passou a parecer extremamente plausível. Gosto de pensar na vida como um ciclo, ou como ciclos que terminam e reiniciam constantemente. Nesse sentido o final de um ciclo é necessariamente o início de outro, pois estamos em contínuo movimento. Bem, me parece uma forma bem melhor de encarar os finais! 

Hoje,

Postado por Taiane Maria Bonita , terça-feira, 23 de agosto de 2011 06:29

...eu acordei um pouco assim
Hoje eu acordei um pouco só.

Como quem aperta a garganta querendo desatar um nó;
Como quem olha o céu querendo ver o sol;
Como quem sente saudade daquilo que ainda não passou.

Hoje...
...eu acordei um pouco assim,
hoje eu acordei um pouco só.

Do estar só!

Postado por Taiane Maria Bonita , domingo, 13 de fevereiro de 2011 17:57


Sonhei que você me desejaria feliz aniversário, pensei em ligar e facilitar o trabalho que seu orgulho provavelmente dificultaria. Antes de decidir busquei por diferentes razões para deixar de lado o meu e lhe propor uma alternativa diferente daquela que já tinha proposto; encontrei algumas, mas tive mede de ser cedo ou tarde de mais para colocá-las em prática.


O que precisava era de uma única palavra de encorajamento para que jogasse fora todos nossos acordos e lhe procurasse: a palavra não veio. Ao contrário uma voz sensata em meu ouvido disse para que eu fosse cuidadosa, desencorajou qualquer impulso meu de desdizer tudo o que eu já tinha dito antes. Estranhamente, o desejo de deixar a razão e agir com a impaciência do coração continuou me perturbando.


Distinguir as coisas da mente e do coração é, com certeza, um trabalho complicado. Seria mais fácil se o poço de sentimentos pudesse compreender que algumas vezes é o comando superior que deve agir. Bem, definitivamente nos derradeiros dias andei agindo pela força da razão, parecia-me o mais certo a ser feito, e a alternativa que tinha mais chances de resultados positivos, então porque meu coração insiste em contrariar aquelo que minha cabeça meticulosamente resolveu decidir?


Tenho feito o que me comprometi a fazer: procurar dentro de mim pelas respostas que não conseguia dar. Essa é uma busca interior; algumas vezes espero em vão por uma resposta que não virá de outro lugar senão de dentro de mim. Como se alguém pudesse colocar sobre uma mesa dentro de um embrulho para presente aquilo tudo que preciso descobrir. Quis, e suspeito fortemente que ainda queira muito receber o pacote que gentilmente me entregou achando que continham minhas respostas. Mas as respostas que carinhosamente você embrulhou são as suas e não as minhas e desta vez nem você pode encontrar o que procuro.


Decidi com dor em meu coração procurar por minhas próprias pernas um caminho por onde trilhar. Há tanto tempo não estou só que devo admitir que a solidão me assusta algumas vezes, e que sua ausência me dói mais do que se quer podia imaginar. Mas como posso pedir que alguém aprecie minha companhia se eu mesma receio em ficar só comigo mesma? Um dia perguntado pelo que procuro, eu não soube responder com exatidão. Hoje vejo que procuro a segurança em mim mesma, procuro a certeza de que minhas escolhas foram tomadas por mim e não são conseqüências dos fatos. Hoje vejo duas formas de levar a vida, deixar a corrente me levar, ou remar para onde quero ir. Resolvi pegar o remo, talvez ele me leve para um lugar contrário daquilo que tanto planejei, talvez ele me leve de volta.


Por hora observo as estrelas em busca do norte para remar, enquanto isso encho meu peito de esperança e de amor, para conseguir a força que meus braços precisam para controlar a barquinha. Aproveito o dia em que completarei mais uma primavera e peço à estrela do norte que esteja iluminando meu caminho.


Ontem sonhei que você me desejaria feliz aniversário.

Une journée comme turiste [ou pas]

Postado por Taiane Maria Bonita , domingo, 12 de dezembro de 2010 13:57


Prezados leitores prestais bem atenção no que vou vos dizer: vida de historiador não é fácil. Além de ter que lidar com as dificuldades que a profissão nos traz – não se iluda; se você estudante desavisado pretendia fazer história e ficar milionário ao final da faculdade, creio que seja melhor trocar de ramo. Além disso, temos ainda que conviver com nós mesmos.

Sim! Historiador é chato. Se você, que lê esse texto agora, é um historiador reconheça: você é um pé no saco. Você problematiza tudo, questiona tudo, você teoriza tudo.

Meu caro amigo, se você é um estudante de história e não se encaixou no perfil acima descrito aconselho que volte para a faculdade e refaça as matérias que reprovou por FI (freqüência insuficiente).

Futuro historiador conforme-se. Ao final dos quatro anos de faculdade você receberá o tão sonhado diploma e mais um certificado de chato, inteiramente grátis. Eu mesma já admiti, vesti a camisa e para aqueles que me perguntam respondo sou historiadora (logo sou chata). Se por um lado percebo que não consegui fugir da maldição do historiador por outro isso me deixa feliz, pois significa que até agora consegui passar em todas as matérias sem problemas – mamãe deve estar feliz.

Mas hoje...

Hoje foi o dia que tive certeza de que sou uma historiadora. Já faz uma semana que estou em Paris. Sim, PARIS! A cidade das lumières, a bela e romântica Paris; sonho das mocinhas apaixonadas.

As pessoas falam que estou em Paris como se eu estivesse em Marte. Paris é apenas uma cidade, linda, charmosa e apaixonante; mas uma cidade. Compreendo a atmosfera criada sobre este lugar, compartilhei por esse sentimento por um longo tempo. Mas acontece que sou uma historiadora.

Não me é suficiente passar férias no lugar onde 80% das pessoas do mundo já sonhou em estar, eu tenho de problematizar algo. Visito Paris como quem visita uma velha amiga, nos encontramos depois de um longo tempo. E o que me prende atenção não são os imensos monumentos, ou a arquitetura megalomaníaca datada de século XIX; são as pessoas. Ou melhor, a relação que as pessoas têm com esta cidade.

Enquanto metade do mundo sonha em passear de mãos dadas pela Champs-Élysées, os franceses evitam essa avenida por causa dos engarrafamentos. Enquanto os turistas não conseguem dar dois passos sem deixar cair seus queixos ou levantar as máquinas fotográficas, os parisienses atravessam o Sena preocupados com o horário do próximo metrô. É esse o incrível de uma viagem, ver como diferentes pessoas em diferentes partes do mundo percebem a cidade onde vivem.

Pois não importa onde você mora Paris, Roma ou Veneza no final a cidade, mesmo com toda sua carga histórica, construções monumentais ou status mundial, é apenas uma cidade; como qualquer outra.

Obviamente me permito meus momentos de turista. Máquina no pescoço para aderir à moda e sorriso estampado no rosto. Afinal de contas c’est bien jolie de imaginar a queda Bastilha aos 14 de julho de 1789 ao passar pela Place de la Bastille; ou pensar nas tropas de Napoleão adentrando Paris ao olhar para o Arco do Triunfo. Ou ainda me impressionar com os entrelaçados de ferro da Torre Eiffel – aquela que foi construída como um monumento temporário para celebração do centenário da Revolução Francesa e se tornou um dos maiores símbolos de Paris e um dos monumentos mais visitados do mundo.

Vantagens de ser uma historiadora – era impossível que só tivessem desvantagens – conhecer e apreciar uma cidade para além de sua estética, para além de seu ar encantador. Conhecer uma cidade com os olhos de quem estuda a história.

Ça me plaît beaucoup!

Memórias de um vôo!

Postado por Taiane Maria Bonita , terça-feira, 7 de dezembro de 2010 12:36


[parte 02]

Quando o mistério se apresentar: perceba-o. Já li alguns textos ao longo de minha vida acerca de pessoas que clamam aos céus sem que tenham os olhos atentos e os ouvidos abertos para receberem uma resposta.

Ontem pedi por guarnição. Muitos julgam que se lançar ao desconhecido com a cara e a coragem significa tão somente não temer o que há de vir; para mim, um passo de coragem – para além da incerteza do que virá e do peito aberto para o desconhecido – deve ser respaldado por aquele que nos guarnece.

Do meu lado direito, pela pequena abertura da janela do avião de onde tudo o que se via era a escuridão da noite fria da Europa, um ponto começou a brilhar.

De início acreditei que seria um reflexo de algo no interior do avião. A noite lá fora estava negra que podia-se cogitar a hipótese de que a aeronave estava perdida no vazio do espaço. Qualquer objeto luminoso para fora daquele avião poderia ser um ET numa bicicleta, ou o próprio disco voador.

Mas acontece, caro leitor, que tinha algo lá fora que brilhava! E não era nem ET, nem OVINI. Fixei por um tempo meu olhar na ola de luz para procurar entender o que seria, a 11 mil pés de altitude dificilmente se trataria de uma antena.

A possibilidade de ser uma estrela me passou pela cabeça, entretanto, se o fosse por que um céu tão escuro? E por que eu só via um único ponto brilhante? Pela luz que aquilo emanava, se fosse uma estrela; era uma estrela digna de um céu repleto delas. Ela se postava, no entanto, solitária no céu.

Perto da aterrissagem, quando meu coração resolveu ter taque cardíaca, e finalmente o sol resolveu dar o ar de sua graça; quando o céu brincava com as cores e ensaiava tonalidades, exibindo um belo painel em tons de azul e laranja; voltei novamente minha atenção para aquele ponto.

E reconheci aquela que sozinha me acompanhava: a estrela do norte. Agradeci! Quando o mistério se apresentar, por favor, perceba-o!

Memórias de um vôo

Postado por Taiane Maria Bonita , segunda-feira, 6 de dezembro de 2010 14:51


[parte 01]

Engraçado todas as outras vezes que entrei num avião eu estava acompanhada. O fato de entrar num avião e sobrevoar os céus já possibilita uma sensação de liberdade, que por causa de fobias nem todos vivenciam. Agora, ao entrar sozinha nessa máquina de ferro que desbrava os ares, a sensação de liberdade que me toma nesse minuto e tamanha que me sufoca.

Talvez não seja o exterior, talvez não seja as nuvens que logo estarão passando sob os meus pés. O fato é que o que sinto é que posso alcançar todo o mundo, e me dou conta do quão pequena sou.

Toda sensação de supra liberdade me reduz ao tamanho que sou, o de um ser humano. Assim, ainda tão imperfeito, tão insignificante se comparado à imensidão azul do céu que me proponho a desbravar nesse momento.

Ao que me parece tomar consciência da grandeza das coisas que nos cercam, coloca sobre o peito a responsabilidade de ser tão pequeno. Se é assim tão minúsculo meu tamanho diante do todo, só me resta colocar-me no lugar que ocupo, o de aprendiz. E arcar com as responsabilidades que dele me são atribuídas.

O ronco do motor do avião é intenso como meu coração nesse momento; estranhamente, à medida que as turbinas aumentam sua rotação e ganhamos velocidade para decolagem, meu órgão vital se põe calmo. Movimento inverso daquele que eu esperava.

O grande pássaro de metal ganha altura e toma seu lugar dentre as nuvens. Me ligo ao azul do céu, enquanto contemplo a doce brancura das nuvens.

Aqueles que crêem somente naquilo que enxergam têm um mundo muito pequeno. Faço-me grata por acreditar em mais do que os meus olhos vêem, acredito naquilo que meu peito sente.

O nó apertado em minha garganta se desfaz. E agora, eu vôo.